quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

King Size: desvendando o mito

Sim, ele está de barba loura, mas é mesmo o King Size do Rio de Janeiro, o tão famoso na internet Alexandre dos Santos Lima. Mas o que você provavelmente não sabe é que ele é um pintor de rua. Leva vida de cigano, carrega na mochila, preta e suja de tinta, o necessário para o sustento: folhas de papelão, latas de spray e estilete. No momento, mora num pequeno apartamento de não mais de 3 m x 4 m em um prédio misto – comercial e residencial - próximo à estação das barcas de Niterói.

São apenas dois cômodos, um quarto e um banheiro. O único móvel é um sofá-cama marrom, de costas para a porta e de frente para a janela, que tem vista para o Corcovado. Em uma corda amarrada na janela ficam penduradas algumas roupas e um chapéu panamá branco com fita vermelha. No chão, várias velas coloridas derretidas são restos de orações que Alexandre faz para os orixás. “Peço pra eles ajudarem os outros e peço coisas para mim também.” Encostados na parede há dois quadros. Um em tons de cinza e azul, que, segundo ele, representa a “colonização inglesa em Chicago”. O outro, de estilo bem diferente do primeiro, exibe flores coloridas. “Só love, só love”, é o nome desse quadro, que tem colado em si uma etiqueta em que lê: “750 bilhões de euros”.



Alexandre nos recebeu sem muitas perguntas. Avisamos que queríamos conhecer seu trabalho e conversar um pouco sobre sua fama na internet. Interrompemos sua rotina matinal, mas ele não se incomodou. Deixou que entrássemos, nos acomodou no sofá-cama e voltou a tomar banho sem parecer se importar com a presença de quatro estranhas em sua casa. Na ansiedade do momento, animadas por termos encontrado o King Size, nem lembramos de nos apresentar. Simplesmente entramos, muito apreensivas com o encontro.

A única restrição que ele nos fez foi à filmagem. Segundo nos contou, sua privacidade não existe mais, pois sua vida está sendo vendida na internet. “Está sendo vendida na internet há muitos anos atrás, para que as pessoas venham a pagar assinatura para assistir”, disse calmamente. “Não sei propriamente onde é que se encontra, mas têm muitas pessoas que chegam para mim e me falam: ‘Sua vida está na internet’.” Apesar de parecer chateado, ele confessou já estar acostumado com a falta de privacidade, que “faz parte desse mundo King Size”. Segundo ele, a invasão de sua vida pessoal é parte de um grande jogo do qual ele participa. “Através das filmagens da minha vida as pessoas fazem as apostas e eu, involuntariamente consequentemente, ganho todas”. Ele acredita que a venda de sua vida na internet gera muito dinheiro e nos contou que já está arquitetando um plano para pegar “toda a grana bilionária” que está em uma conta no seu nome.



A minha vida é um desafio constante, é sempre um jogo. A cada minuto eu estou sempre superando”, disse ele. Enquanto falava, nós olhávamos as pinturas em papel que ele nos entregou em uma pasta preta. Eram paisagens psicodélicas com pirâmides, planetas desconhecidos, golfinhos e cachoeiras. Ele nos contou que pintava uma daquelas em apenas 10 minutos. Havia passado muito tempo vendendo sua arte em Botafogo, ao lado do Botafogo Praia Shopping, e agora costuma ficar em Niterói, onde trabalha com menos freqüência e vende cada trabalho por R$10,00. “De um tempo para cá eu estou tentando trabalhar menos, levar uma vida mais despojada, mais tranqüila. Antes eu pintava direto, sempre, sempre. Agora to mais sossegado, não fico fissurado pintando direto”, disse ele com sua voz arrastada.



Olhávamos as pinturas evitando encará-lo. A verdade é que não estávamos confortáveis. Fazíamos alguns comentários sobre as imagens e ele, agachado no chão, nos observava atentamente. No canto das pinturas, reparamos que havia duas assinaturas, uma com letra de máquina, do lado esquerdo, era do “King Size”, a outra com letra cursiva, do lado direito, dizia “Alê Lima”. Foi a oportunidade perfeita para entrar no assunto do King Size.

“King Size quer dizer... O que quer dizer em inglês, vocês sabem?”, ele revidou a pergunta, respondendo logo em seguida: “Rei tamanho. Eu sou o rei tamanho, eu sou o filho mais novo do Rio de Janeiro.” E continuou a explicação: Os king sizes são os maiores inventores de jogos e arte que há no planeta.” Ele nos contou que já nasceu King Size, pois o título é hereditário e tem origem em sua ascendência portuguesa. Por ser um King Size, Alexandre participou de um jogo valendo a cidade do Rio de Janeiro. “E eu ganhei, sou o dono do Rio de Janeiro”, afirmou orgulhoso. “Porém, por parte da minha família eu não consegui assumir cidade.”

Enquanto nos contava essa história, ficamos curiosas para saber como funcionavam esses jogos e apostas, mas achamos prudente não perguntar para não instigá-lo a querer jogar conosco algo que poderia ser perigoso. Até que uma de nós irrompeu o silêncio e perguntou: “Mas como são esses jogos?” Congelamos. O medo tomou conta de todas quando ele, rindo de modo que me parecia assustador, falou: “A gente pode, por exemplo, fazer um jogo aqui agora. Se eu ganhar, eu ganho, se eu perder eu perdi. Querem jogar?” Nem deu tempo de respondermos e ele já estava se levantando e se dirigindo para trás de nós, onde pegou algo na mochila. “Fechem os olhos!”, ele avisou. Bem, não fechamos os olhos.



Apenas uma de nós olhou para trás e conseguiu ver o que ele segurava. Felizmente, era apenas um inofensivo frasco de perfume. Ele se aproximou. Escondendo o vidro com as mãos, nos deu as instruções: “Relaxem, fechem os olhos”. É claro, que não estávamos relaxadas, muito pelo contrário. Ele, muito sensível, percebeu nossa tensão e chegou a dizer: “Calma, eu não sou ladrão não...” De repente, espirrou o perfume na gente. “Qual é o nome desse perfume?”, perguntou sorrindo de um jeito bobo. Por sorte, uma de nós tinha conseguido ver que a marca do perfume era Adidas e respondeu prontamente. Ele ficou impressionado. “Vocês ganharam o jogo.”

Perguntamos se tinha sido assim que ele havia ganhado o Rio de Janeiro. Ele respondeu que havia sido em um jogo diferente, mas que os jogos sempre envolviam desafios, perguntas e superações. Alexandre contou que ganhou a cidade, mas não pôde assumir por causa do irmão que não queria vê-lo feliz. “Eu vivia com uma mulher, a Andréia, mãe da minha filha Késia, depois de anos de vida feliz, assim entre aspas, porque nós tínhamos nossas brigas. Aí estupraram a menina. Eu falei isso no vídeo e fizeram uma sátira em cima. Mas aquilo realmente aconteceu”, falou em tom sério, como o que usou na famosa entrevista que deu sobre o serviço das barcas.

No meio da história, ele deixou de lado o irmão - que teria o impedido de assumir como dono do Rio – e passou a falar na máfia chinesa. “Os chineses decidiram estuprar essa menina para eu não saber que eu tinha uma família portuguesa que havia me dado umas terras.” Segundo ele, os chineses também roubaram a documentação da cidade e toda a fortuna que vinha com o prêmio, impedindo-o de tomar posse do Rio. Mas depois, os “astros de Holywood” vieram ajudá-lo e montaram um novo jogo, desta vez valendo a orla da cidade. “Eles tão aí, mas eles não falam comigo: ‘Oi Alexandre eu sou um astro de Holywood’. Mas eles vieram para comprar a cidade. E como eles compram a cidade? Fazendo fotos minhas, vendendo no Orkut, vendendo fotos de meninas de biquíni, meninas que fazem até propriamente programas com bilionários”, explicou de seu modo desorganizado.

A história de Alexandre tem alguns pontos contraditórios, mas narro aqui o que ouvimos. Segundo ele, foram os astros de Holywood que colocaram o vídeo de sua entrevista na internet. Isso foi mais um desafio do jogo. Se ele aguentasse a exposição, estaria mais perto de vencer. “Os astros de Holywood, que são kings size, o Bruce Willis, o Sylvester Stallone, toda essa galera, montaram esse jogo”, afirmou. Para ele, a entrevista que o tornou famoso, não foi uma simples coincidência e nem mesmo feita por uma repórter. “Naquele dia eu estava de rolé na rua e foi onde eu tomei conhecimento dessas informações [do jogo dos astros de Holywood]. Um cara me chamou e disse que ia passar na TV. Mas na verdade aquilo foi uma das meninas que fazem parte do agito. E um dos caras que fez parte dessa filmagem não autorizada fez aquela sátira do Youtube em que aparecem uns caracteres falando que King Size é uma cama redonda”, contou indignado.

Para se livrar de toda essa perseguição, Alexandre está aprendendo inglês. “Por isso eu estou estudando inglês, aguardando a cada dia a hora de eu poder ir embora.” Ir embora, significa ir para os Estados Unidos, encontrar os astros de Holywood. Animado, ele nos mostrou dois dicionários que usa para estudar. Na lateral dos livros podíamos ver “Késia” escrito à caneta. Ao chegar nos EUA, Alexandre pretende, finalmente, fazer um filme autorizado de sua vida. Mas por enquanto fica aguardando a hora de se ver “livre desse cárcere cibernético”.

Ouça aqui parte de nossa conversa com o King Size

 

21 comentários:

  1. Genial, meninas! Parabéns pela ideia. E pela realização. Vcs têm que divulgar o blog. Procurem em meu nome o Joaquim Ferreira dos Santos, na coluna Gente Globo do Globo, ou a assistente dele, a Cleo Guimarães. Eles vão adorar dar uma nota sobre o blog e seus personagens na coluna.
    Abs
    Cristiane Costa

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  2. Conclusão (do que já sabíamos): o cara é doido varrido mesmo. Tinham que ter dado do endereço do Pinel... ehhe

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  3. Parabéns meninas, ficou show msm! Mt legal conhecer quem de fato é o Sr King Size. Façam mais investigações do tipo! Vcs poderiam tentar encontrar o tio da vila cruzeiro que a pareceu no pânico..mt mais legal conhecer a respeito dessas pessoas comuns..
    Quaquer hora ainda encontro ele indo pra UFF!! rsrs

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  4. Cara muito legal isso q vcs fizeram e o cara pinta muito hein? Meio lunatico, mas eu gostaria de ver um filme sobre a vida dele, ia ser uma coisa mto psicodelica, nonsense, ia ser foda kkkkk

    Parabéns pelo blog!

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  5. Voces foram perfeitas! Essa ideia de conhecer o dia-a-dia desse King Size foi genial!
    Parabéns.

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  6. ótimo trabalho,estão de parabéns.
    Vcs são lindas e muito corajosas,pois estavam correndo perigo junto do Sr. King Size.
    Cara viajado pra caralho.

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  7. vcs são fodas! acharam o cara, q coragem hein!

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  8. "Good morning Angels"... Não me chamo Cjarlie, me chamo John Gavanga, sou diretor do projeto Os Camaradas. E vim até aqui para parabeniza-las pelo excelente trabalho. Depois dêem uma passadinha pelo nosso site e de preferência vamos manter contato (www.oscamaradas.com). Temos planos para vocês!!!

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  9. Caramba!

    Esse cara deve ter uma história (real) bizarra.
    Se vcs perceberem pelo video, ele fala muito bem. Alguma coisa muito marcante deve ter acontecido na vida dele pra ele ficar louco.

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  10. Construiu uma nova realidade a partir do surto. Por isso ele consegue minimamente se inserir na sociedade, fazer laço com os outros.. Assim como o Profeta Gentileza...
    Parabéns meninas.. Bacana a reportagem

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  11. Falou, falou, e não chegou a lugar nenhum... Ele só repetiu as mesmas maluquices que falou no video. Afinal, quem é esse maluco?

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  12. Toh impressionada com isso! Parabéns mesmo. Bastante corajosas ( e curiosas) ;)

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  13. Parabéns pela matéria (e pela coragem, claro).
    Gostei do blog e já adicionei no meu feed aqui.

    Uma coisa: o player não está funcionando... fiquei curioso de ouvir o trecho da entrevista.

    Té.

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    1. Olá, obrigada pelo feedback. Mas eu estou conseguindo ouvir o áudio. Deve ser a falta de algum plugin... Vê se abre em outro navegador, de repente.

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  14. Ele ainda vende quadros na estação das barcas?

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  15. Curti demais essa entrevista muito show
    Isso prova que genios em algo tem um certo grau de doidera (embora esse cara fale coisas sem sentido no portugues mais correto)

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  16. POW TINHA QUE TER TIRADO ALGUMA FOTO DELE NA CASA PORQUE ASSIM NAO TEM NEM COMO DAR VOTO DE CONFIANÇA HOJE EM DIA NEGO INVENTA MUITA COISA NA INTERNET MEU PARCEIRO ...

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  17. Muito bom! Curti demais. Deve ser extremamente interessante conversar com um sujeito desse, tentar entender a forma como ele pensa.

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  18. O audio da entrevista está offline.

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  19. Oi Leo, você é a segunda pessoa que aponta isso. Não sei qual é o problema porque eu estou conseguindo abrir o áudio normalmente...

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